“O Cinema à Deriva - Juan Siringo” tem a primeitra etapa em exibição neste dia 10

“O Cinema à Deriva – Juan Siringo” tem a primeitra etapa em exibição neste dia 10

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Novo projeto de Felipe Abramovictz revitaliza e projeta filmes de vários milímetros

Da redação

Entre às 9h e às 17h deste sábado, 10, Felipe Abramovictz promove a primeira etapa do projeto “Cinema à Deriva de Juan Siringo”, no audiório do Museu Histórico “Paulo Setúbal” de Tatuí.

A iniciativa exibe obras de Siringo digitalizadas a partir de material em película 8 mm, 16 mm e 35 mm. A primeira sessão terá o curta “Chico, o Leve” (1967), assim como trechos recuperados do longa “A Nova Gente”(1969) e de filmes realizados em 8 mm.

A iniciativa é parte de um projeto de pesquisa desenvolvido por Abramovictz desde 2018. As ações relaizadas em agosto antecipam a mostra completa, a ser apresentada no mês de outubro, que contará com bate-papos e intervenções.

“Trata-se de um fundamental resgate da memória de um cineasta, roteirista, fotógrafo e escritor que, mesmo tendo feito filmes relevantes no debate artístico, carece de maior reconhecimento, algo que pode ser explicado pelo fato de seus filmes terem permanecido inacessíveis por décadas”, observa o acadêmico tatuiano.

“A exibição mostra-se fundamental para que seus filmes possam, enfim, ser vistos novamente pelo público e debatidos na presença do cineasta”, segue ele.

O cineasta

Nascido em Mar Del Plata (Argentina) em 1939 e radicado no Brasil desde o fim dos anos 1950, Juan Siringo começou a trajetória no cinema na segunda metade dos anos 1960, quando dirigiu o média-metragem “À Deriva” (1965-1966).

O roteiro foi feito junto ao poeta catarinense Lindolf Bell, “em um projeto de experimentação influenciado pelas vanguardas europeias que, em cena, ganham um contorno de drama existencial”, explica Abramovictz.

No elenco, a atriz Karin Rodrigues. A trilha sonora é da cantora Tuca, em seu trabalho de estreia. O filme circulou em diversos festivais no país e no exterior. Será no seu filme seguinte, o curta “Chico, o Leve” (1967), que sua trajetória ganha destaque no debate cinematográfico, em especial após ser exibido no Festival de Karlovy Vary e premiado pelo Instituto Nacional de Cinema.

Trata-se da adaptação de um conto de Enrique Anderson Imbert, no qual o protagonista, enfrentando um contexto de miserabilidade social causado pela seca, acaba por levitar.

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Nesse momento, em meio a um período de grande mobilização social e política em oposição ao regime instituído que caracterizou o contexto de 1968, produz seu longa-metragem de estreia, “A Nova Gente”, “ficção que trazia à tona todo um contexto de levantes estudantis que, ao ser submetido à censura em 1969, sob a vigência do AI- 5, passa por cortes que inviabilizam seu lançamento comercial, a despeito das inúmeras tentativas de seu realizador”, informa Abramovictz.

Pouco depois, aproxima-se de Alfredo Sternheim, com quem colabora no roteiro de “Paixão na Praia” (1971) e, especialmente, em “Anjo Loiro” (1973). Em 1978, dirige “Pecado Sem Nome”, estrelado por Raul Cortez e Sandra Barsotti, “um retrato da marginalidade inspirado em notícia de um jornal popular”, aponta o pesquisador.

Na mesma época, escreve contos, como “Chuvas de Setembro”, “Largo Adeus”, “Mágico Sul”, “A Dama do Brás”, “O Infinito”, e duas peças teatrais, “Íntimos Desconhecidos” (lançada sob o pseudônimo Antonio Renzo) e “Gulosos e Guloseimas”, que, mesmo premiadas na época do lançamento em concursos de dramaturgia, permanecem inéditas.

Curadoria

Felipe Abramovictz é doutorando em multimeios (Unicamp), mestre em comunicação audiovisual (PPGCOM-UAM) e graduado em comunicação e multimeios (PUC-SP).

Possui especialização em patrimônio audiovisual pela Dipra (Diplomatura en Preservación y Restauración Audiovisual, Buenos Aires) e tem formação em teatro pelo Conservatório de Tatuí.

É autor do livro “Cinema É Sonho” (2023). Realizador dos documentários “As Imagens de Aury” e “Valsa de Julho”, longas-metragens em que atuou como diretor e montador. É co-roteirista e diretor de fotografia do longa “Trópico de Leão” (em finalização, 2024).

Atualmente, dedica-se à recuperação do acervo do superoitista paulista Expedito Lima, realizador de dez longas na bitola entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 1980, e a um livro sobre o cineasta intitulado “Cinema É Sonho”, viabilizado através de recursos do Proac (www.cinemaesonho.com.br).

A partir da pesquisa, organizou mostras na Cinemateca Brasileira, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e no Centro de Memória do Circo.

Desenvolve, ainda, projeto a partir dos acervos pessoais do cineasta e roteirista Juan A. Siringo (“Cinema à Deriva”) e de Otoniel Santos Pereira, que, ao longo dos anos de 2020-2022, permitiram a recuperação de parte de seus materiais fílmicos.

A partir da pesquisa, foi curador das Mostras “Otoniel Santos Pereira – Cinema de Pele e Osso” e da mostra “O Cinema à Deriva – Juan Siringo”, ambas na Cinemateca Brasileira.

No mesmo local, organizou as mostras “André Luiz Oliveira – Cinema de Dentro”, retrospectiva completa da obra do cineasta com exibição de mais de 30 títulos, e “Luna Alkalay – Fantasias do Real” (2024).