Museu ‘Paulo Setúbal’ de Tatuí recebe projeto com obras de Lisa Abramovictz
Desafios vividos por judeus embasam trabalhos, organizados pelo neto Felipe
Da reportagem
Na quinta-feira da próxima semana, 19, será lançado, no Museu Histórico “Paulo Setúbal” de Tatuí, às 19, o projeto “As Fatias de Pão – A Literatura de Lisa Abramovictz”, que tem como organizador o cineasta e pesquisador Felipe Abramovictz, neto da autora, Lisa Abramovictz.
O projeto inclui textos que datam de 1970 a 1990. Segundo o organizador, eles nunca foram publicados e possuem valor afetivo, por terem sido encontrados no porão da casa da avó.
Abramovictz busca, com o projeto, recuperar três manuscritos encontrados no porão da casa dele, em Tatuí. As obras abordam a experiência da diáspora judaica e seus traumas através de histórias que mesclam ficção e memória.
Os livros foram organizados em uma edição única, com 440 páginas, a ser lançada primeiramente em São Paulo, na quarta-feira, 18, e então em Tatuí, na quinta-feira, 19.
A iniciativa foi viabilizada pelo Programa de Ação Cultural (Proac), e a distribuição será gratuita. Em entrevista, Abramovictz destacou a importância do projeto como um resgate histórico e afetivo, permitindo que a obra da avó pudesse alcançar o público.
Com “As Fatias de Pão”, Abramovictz “reúne literatura, memória e história em um tributo à avó e às vozes muitas vezes silenciadas da cultura judaica”.
Segundo ele, o projeto também visa “convidar os leitores a explorarem narrativas atemporais e a refletirem sobre a diáspora e os desafios enfrentados pelas comunidades ao longo da história”.
É indicado também o endereço eletrônico para aprofundamento do projeto: https://www.asuspeita.com.br/as-fatias-de-pao-fabulas-da-minha-vo.
Narrativa entre gerações
O projeto é composto por três livros principais: “A Pequena Ilha de Pedra”, “Dezoito Minutos Antes do Pôr do Sol” e “Os Castiçais da Vovó – Sete Contos e Uma História Real”. Cada obra visa retratar diferentes períodos e contextos da história judaica.
“A Pequena Ilha de Pedra” é ambientado na Sevilha medieval, narra a expulsão dos judeus da judiaria desse local e suas lutas contra o autoritarismo religioso. A obra se baseia em tradições orais judaicas e pesquisa histórica, “destacando a busca por resistência e preservação cultural”.
“Dezoito Minutos Antes do Pôr do Sol” explora as experiências de 25 famílias judias na Bessarábia (atualmente território russo), atravessando as grandes guerras e revoluções do século 20.
“A narrativa evidencia o impacto das violências e do antissemitismo sobre essas comunidades, sempre mediado por um forte senso de coletividade”, indica Abramovictz.
Já “Os Castiçais da Vovó” é uma coleção de sete contos e uma história real que mistura memórias pessoais e elementos ficcionais. Destaque para o conto que dá nome ao livro e “O Contador de Histórias”, no qual a autora ficcionaliza a própria trajetória.
Conforme Abramovictz, “as narrativas de Lisa são marcadas pelo humanismo e pela sensibilidade, refletindo os desafios enfrentados por gerações da diáspora judaica”.
Reinterpretação
A edição também inclui textos de Felipe Abramovictz e Luna Alkalay, que contextualizam a redescoberta e reescrita das obras de Lisa. Luna, coorganizadora do projeto, enfatiza que o trabalho é “uma homenagem a tantas autoras cujos escritos ficaram esquecidos em gavetas e arquivos familiares”. Para ela, o projeto também permite “um reencontro com memórias coletivas e trajetórias femininas muitas vezes invisibilizadas”.
Outro destaque é o design gráfico, assinado por Victoria Lobo, que “buscou traduzir o espírito das narrativas por meio de uma abordagem visual cuidadosa e contemporânea”, destaca Abramovictz.