Conservatório de Tatuí lança 2ª edição do concurso Joaquina Lapinha
Iniciativa da instituição é destinada a cantores líricos pretos, pardos e indígenas
Da redação
O Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí está com inscrições abertas para o 2º Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha. As inscrições são gratuitas e deverão ser feitas exclusivamente online, por meio do link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdntGZmrmJZ0K9M0kGRiwVZB-1ufzKAzRYsHf-TB578Lfb6Vg/viewform. Os interessados têm até o dia 3 de setembro para se inscreverem.
Poderão se inscrever cantores líricos pretos, pardos e indígenas, residentes no Brasil e que tenham idade entre 18 e 45 anos, nas categorias voz feminina e voz masculina.
O primeiro lugar, em cada categoria, receberá R$ 20 mil, e o segundo lugar, também em cada categoria, receberá R$ 15 mil, além do prêmio de R$ 10 mil para a categoria jovem solista, concedido a cantor ou cantora de até 25 anos.
Trata-se da maior premiação deste segmento no Brasil. O concurso prevê, ainda, que os primeiros colocados de cada categoria integrarão o elenco de solistas da temporada lírica 2024 do Theatro Municipal de São Paulo.
Já os segundos colocados e o ganhador da categoria Jovem Solista se apresentarão na temporada 2024 do Teatro “Procópio Ferreira”, de Tatuí.
Os ganhadores de todas as categorias participarão do recital de premiação, acompanhados por uma orquestra, no dia 14 de dezembro, no Theatro Municipal de São Paulo.
O 2º Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha acontecerá em quatro fases: análise documental (online), eliminatória (online), semifinal e final (presenciais, em Tatuí). O júri será formado por cantores, diretores artísticos e professores. As orientações detalhadas estão indicadas no edital (https://www.conservatoriodetatui.org.br/espaco-do-aluno/23849/).
A primeira edição, realizada no segundo semestre de 2022, premiou, em primeiro lugar, Chiara Santoro Gomes e Isaque Pereira Braga de Oliveira; em segundo lugar, Thaina Roberta da Silva Souza e Marcelo Dias da Silva; e Núbia Eunice Viana Ferreira e Paulo André Nascimento de Jesus Maria na categoria jovem solista.
“Foi uma alegria e me sinto honrada por ter sido agraciada com o primeiro prêmio no 1° Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha”, conta Chiara Santoro.
“Além de ter sido uma grande emoção, por meio dessa ação afirmativa histórica, pude conhecer tantos talentos e vozes de cantores negros, pardos e indígenas em um encontro muito significativo e de pertencimento para todos. Tive a oportunidade de cantar pela primeira vez como solista no prestigioso Theatro Municipal de São Paulo e debutar em “Cosi Fan Tutte”. Uma ocasião ímpar que foi um marco na minha trajetória artística”, afirma.
“Vida longa a esse concurso tão necessário e importante para o canto lírico do nosso país: que nossas vozes sejam cada vez mais ouvidas e apreciadas. Viva Joaquina Lapinha!”, acrescentou a vencedora.
A niteroiense Chiara Santoro Gomes integra o corpo lírico da Ópera “Così Fan Tutte”. Já Isaque Pereira Braga de Oliveira, a ópera “La Fanciulla Del West”, ambos projetos executados pelo Theatro Municipal de São Paulo.
O nome do concurso homenageia a primeira atriz e cantora lírica brasileira e negra a ganhar destaque internacional, Joaquina Maria da Conceição Lapa – a Joaquina Lapinha –, considerada uma referência feminina na cena lírica e uma das primeiras mulheres a receber autorização para participar de espetáculos públicos em Lisboa.
Joaquina Lapinha foi reconhecida no cenário artístico luso-brasileiro como cantora, entre fins do século 18 e início do 19. A artista começou a atuar no Rio de Janeiro, embora tenha nascido em Minas Gerais, conforme registro de 1859 do jornal “O Espelho”.
A artista se apresentou em várias cidades portuguesas no período de 1791 a 1805 e, apesar da carreira internacional, alguns autores apontam que, por ter a pele negra, a atriz precisou recorrer a cosméticos para clarear a pele nas apresentações na Europa.
A cantora foi tema do livro “Negras Líricas: Duas Intérpretes Brasileiras na Música de Concerto”, do pesquisador e músico Sérgio Bittencourt-Sampaio. Foi citada em “O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis (1956)”, do cronista Luís Edmundo, como aquela que ficava “pisando como ninguém em tablas (palco)”, além de ser enredo da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, no carnaval de 2014.